Só uso a palavra para compor meus silêncios





Uso a palavra para compor meus silêncios. 
Não gosto das palavras 
fatigadas de informar. 
Dou mais respeito
 às que vivem de barriga no chão
 tipo água, pedra, sapo. 
Entendo bem o sotaque das águas. 
Dou respeito às coisas desimportantes 
e aos seres desimportantes 
 Prezo insetos mais que aviões.
 Prezo a velocidade 
das tartarugas mais que a dos mísseis. 
Tenho em mim esse atraso de nascença. 
Eu fui aparelhado 
para gostar de passarinhos. 
Tenho abundância de ser feliz por isso. 
Meu quintal é maior do que o mundo. 
Sou um apanhador de desperdícios: 
Amo os restos, 
como as boas moscas. 
Queria que a minha voz tivesse um formato de canto.
 Porque eu não sou da informática: 
eu sou da invencionática. 
Só uso a palavra para compor meus silêncios.


Manoel de Barros




Tenham uma linda manhã. Abraços
Eduarda Lins

Postar um comentário

1 Comentários

  1. Opa!!! Manoel bandeira aqui em nosso recinto!!! Grata por trazê-lo Duda! Ele é fantástico!!!
    =))

    ResponderExcluir

Obrigada pela sua visita!
Ficaremos muito felizes com teu comentário!

Att,
Nós, Poéticos e Literários!
nospoeticos@gmail.com