Avante!

 

Caminhar adiante, seguir adiante, e somente adiante. Perceber no horizonte, sempre à frente, o segredo da vida e o mistério do caminho que é experimentá-la.

Estrada percorrida por pegadas apagadas, a vida é sensação antes de tudo; sentimento; quase tato. E, sendo assim, os Pés se viram na necessidade de darem o primeiro passo. E deram! Vacilantes, mas resolutos.

A Razão, indecisa, logo protestou. Afinal, quem decide o quê, e quando? Sempre ela (!). Teve de se dar por vencida, pois os pés, apressados, só se firmaram.

O Coração, cansado, fechou-se ainda mais. Para onde iriam levá-lo agora? Tudo que desejava era ficar ali mesmo, sufocar o presente e esquecer o passado. Argumentou com os Pés que tal caminhada era impossível de ser realizada, pois, ele, Coração, não tinha mais forças para dar, se quer, um passo.

Foi, então, nesse momento, que os Pés taparam os ouvidos e em concordância com as mãos, embalaram o Coração protegendo-o de todo abalo.

Pronto.

A partir dali, o caminho continuaria a ser sempre percorrido. É esse o desejo e o plano. E, os Pés, embora a passos firmes, seguiam respeitando o propósito da estrada ao não deixar atrás de si marcas de pegadas. Sabiam eles que era mais seguro que assim fosse. Não queriam se permitir o risco de sucumbirem às próprias lembranças.

 

 

Malu, em abril de 2010.