Também tenho medo de
amar
Por Manueli Dias
Era mais um começo de
expediente no coffee. E como sempre, bastante movimentado, todas as mesas
ocupadas, e uma fila de clientes para pagar e fazer novos pedidos. Além do tradicional
café e suas derivações, para quem frequentava aquele lugar uma das coisas qual
nunca faltava era o meigo e sincero sorriso com o qual Letícia sempre atendia
os clientes.
- Obrigada, senhora.
Próximo, por favor...
- Oi Letícia.
- O que você está
fazendo aqui?
- Quero falar contigo!
- Já disse tudo que
tinha pra dizer, vai embora. Próximo!
- Não! Letícia me
escuta, melhor, me explica o que foi aquilo, porque essa decisão?!
- Eu já te disse, eu
não quero mais olhar esses teus olhos que me deixa sem noção, não quero pensar
em você, muito menos sentir o teu cheiro que me faz pensar que estou louca.
- Viu, você também me
ama! Por que fazer isso então.
- É exatamente isso, eu
não quero te amar, não mais do que já amo.
- Mas eu te amo!
- Escuta Felipe, eu
conheço muito bem o coração que tenho, ele se entrega, entrega, e sofre. Sabe,
um dia, um belo dia, você vai chegar e dizer que não dá mais, ou talvez, a
gente comece a se afastar, e quando perceber, estaremos dois desconhecidos
dividindo o mesmo espaço.
- Letícia...
-Não, para. Para com
isso. Vai embora, eu preciso trabalhar.
Felipe se afastou e deu
espaço para o cliente já nervoso que estava esperando. E cada vez mais se
afastando, olhando para Letícia, notando que apesar de atender os clientes com
um belo sorriso, hoje seus olhos deixavam algumas lágrimas escapar. Acontece
que ele não esteja disposto a desistir, ele também não sabia como seria o
futuro de ambos, se é que eles teriam um futuro, mas ainda assim, ele não
poderia desistir.
A última mesa, bem
atrás, escondida acabara de vagar, e ele se sentou. Ficou ali por toda a manhã,
observou as pessoas que ali chegaram e saíram, as histórias que aconteciam.
Observava Letícia, percebera o quanto ela gostava do que fazia, apesar de não
gostar de café. Viu ela sair para o almoço e retornar quase duas horas depois,
passou a tarde ali, observando e admirando-a.
Quando o expediente
terminou, só faltava uma mesa fechar a conta, era a que Felipe estava, sem restrições
ele levantou-se e começou:
- Eu sei que você gosta
de rosas, mais prefere mesmo é o perfume dos jasmins.
Sei que não gosta de
café, mas ama o que faz. Sei que você é viciada em chocolate, mas tem que ser
aquele com recheio de licor de passas. Sei que você mora sozinha e gosta disso.
Sei que você nunca me dará atenção quando estiver vendo os vídeos do Chico
Buarque. Sei que você rouba o cobertor quando está dormindo, que não tem medo
do escuro, mas a luz do abajur deve ficar acesa... Eu sei tantas outras coisas,
das mais simples, as mais terríveis, e eu te amo em cada uma dessas coisas,
cada detalhe que é você, eu amo.
- Felipe...
- Deixe eu terminar,
por favor... deixa eu terminar.
- Tá...
- Acontece que, apesar
de te amar, eu também não sei como será eu e você. Olha só, somos diferentes em
tantas coisas, o que vai nos gerar muitas brigas, mas também nos completamos,
nossos momentos são perfeitos. E o que você tem, é medo. Mas eu também tenho
medo. Tenho medo de um dia acordar e você me deixar, de me trocar por alguém
mais bonito ou interessante que eu, duvido muito que exista alguém mais bonito
e interessante, mas você pode assim o achar, bom, o que eu quero dizer, é que
eu também tenho medo de amar, mas não quero deixar esse medo me impedir de ser
feliz, e minha felicidade será muito melhor contigo.
Letícia sorriu e se
jogou nos braços de Felipe, ela não perdera o medo, mais sabia que viver aquele
presente que a vida estava lhe dando era melhor do que ficar se torturando ao
pensar em como poderia ter sido. Ou ainda tentando tirar a imagem de Felipe da
sua mente.
Os outros funcionários
do coffee que assistiram toda a cena, teceram comentários por várias semanas,
alguns acham que tinha sido a declaração mais linda por eles vista, outros que
era exibicionismo demais, a minoria preferiam torcer em silencio.
E o que se sabe é que
até hoje, Letícia e Felipe mesmo com seus contratempos vivem felizes.
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