Eis que saí da minha terra,
para da terra de outros cuidar.
Uma terra tão distante da
minha, que ficava do outro lado do mar. Eu arei a terra, plantei, colhi. E mal
consegui um leito para deitar.
Deitar meu corpo cansado,
Meu corpo dolorido,
De sangue escorrido,
Do flagelo no tronco,
Como castigo,
Pelo atrevimento de para minha
terra querer voltar.
Chorei por nada
Sangrei por tudo,
Com o vermelho de meu sangue,
Misturado ao sangue de outros
cativos, feito eu,
A tal pátria escreveu sua
história e obteve glória.
Eu?
Eu fui feito de burro de carga;
Eu fui o negro fujão;
Eu fui o bicho reprodutor;
Eu fui a ama de leite;
Eu fui a negra da senzala;
Eu fui a negra atrevida;
Eu fui o capacho, o estorvo, o
indolente;
Eu fui o negro liberto abusado;
Eu?
Eu só não fui gente,
Eu só não fui respeitado;
Eu fui esquecido;
Eu fui desprezado, rejeitado;
Mas, eis que eu fui Zumbi dos
Palmares;
O negro bendito; Líder dos
cativos;
Que a honra e a dignidade resgatou
na luta;
Hoje, tenho certeza que meu
sangue não é nobre;
Também não é apenas negro;
Meu sangue é mestiço,
Tingido do mesmo vermelho que o
seu!
É este o sangue que corre nas
minhas veias,
De vermelho vivo, que muitas
vezes limpei nos curativos do branco ingrato e altivo;
Eu?
Penso de que nada vale o orgulho,
Os pré-conceitos; A arrogância;
Se na hora da morte e da dor,
não temos cor;
Se quando se sangra, o vermelho
é igual;
A verdade é que do barro que
fomos feitos,
Na vala de um dia, será a coberta
do leito,
Onde descansaremos nossas
agonias;
- Manueli Dias, 20 Nov
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