A Gaita e o Velho umbu

Contos, Sul, Sul brasileiro, literatura, poesia, cultura gaúcha, espalhando cultura
Fotografia: Mara Ramos

Debaixo do centenário umbu, todos os finais de tarde, uma bela guria de nome encantador, Aimée, cabelos compridos e cacheados, pele morena com suas dezesseis primaveras… Tocava diversas canções: Vaneira, xote e milonga. A velha gaita, de oito baixos de cor desbotada, pois, foi passada de geração em geração, era sua companheira de alegrias e tristezas

O tempo naquele lugar parecia estático, a música ecoava os quatro cantos. Aqueles dedos finos e ágeis davam “nó nos olhos” e até os animais no campo ficavam mansos.

Aimeé encantava tanto por sua beleza quanto pelo dom de tocar aquele instrumento.

Mas chegaram os compromissos com os estudos... E os encontros que eram diários, tornaram-se semanais. O ronco da gaita e a agilidade dos dedos, foram trocados por longas tardes de estudos e leituras de livros.

O centenário umbu já não era o mesmo! Os animais ficavam agitados! Os tropeiros que passavam próximos daquela gigantesca árvore sumiram.

A encantadora guria passou no vestibular e teve que, temporariamente, abandonar o seu recanto. Uns dias antes de partir para a cidade, foi ao encontro de sua velha companheira e tocou pela última vez, com os olhos cheios de lágrimas. E os com os dedos  já não tão rápidos deixou esta marca:

 “Meus verdadeiros amigos que deixarei neste pago: meu amado umbu que por muitas vezes me deste sombra e o movimentos das tuas folhas, melodias para os meus ouvidos e à  minha amada gaita os melhores acordes. ”
Luísa Mara Cuadros


Glossário
Dezesseis primaveras: expressão usada antigamente principalmente para moças que completavam mais um ano de vida.
Gaita: Acordeão, em demais regiões do Brasil. Conhecida como sanfona.
Guria: menina, moça.
Marca: Nome que se dá a qualquer música tocada nos bailes de campanha, geralmente por um gaiteiro isolado.
“Nó nos olhos”: agilidade, confundiam o observador.
Tropeiros: Condutor de tropas, de gado, de éguas, de mulas ou de cargueiros.
Umbu: Árvore de grande tamanho, cujas raízes saem à flor da terra, muito copada, de folhagem espessa, que produz excelente sombra, uma das árvores simbólicas do Rio Grande do Sul.
Vaneira, xote e milonga: ritmos gaúchos.




Sobre a Autora:
Luísa Mara Cuadros, 36 anos. Natural de Bagé/RS. Graduada em Letras (Língua Portuguesa/Língua Espanhola). Participou da Oficina Criativa promovida pela Casa Pitanga, apaixonada pela fotografia, cultura do Rio Grande do Sul e escrita. Adoro esta mensagem: “Aprender sempre. ”



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1 Comentários

  1. Esse conto A gaita e o velho umbu é incrivelmente uma ode ao tempo, a passagem do tempo . Uma lindeza . Parabéns a autora.

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