O contista Marcos Vinícius, nos fala sobre lembranças que perdemos ao longo da vida

Lembranças Vazias


                                               Escrito por Marcos Vinícius
 Imagem de David Mark por Pixabay

Em uma noite, de céu enegrecido, numa casa velha, Maria, uma jovem garota de cabelos aveludados cor de amora, de pele macia, olhava para um par de olhos esmeralda amedrontados, e buscava compreender o que poderia ter acontecido com a outra jovem, que sempre vivera uma existência maldita.

Em frente à mesa, o semblante de Lia, a dama de cabelos avermelhados, era opaco e parecia temer as cores alegres... Que há na vida. Sua aura destemida, que a fez chegar tão longe, agora, era somente uma lembrança perdida, na estrada que todos nós percorremos na vida. Ociosa, com medo de perdê-la, Maria mantinha os olhos esverdeados fixos na face receosa da garota assombrada. Queria poder ajudá-la... Mas não sabia como. Pois Lia rejeitava qualquer tipo de solicitude alheia. Sempre fora assim... Ela preferia ficar submersa no seu próprio túmulo, empoeirado, inóspito... Quieto. 

O silêncio se fazia presente, e queria ser notado. Preenchia cada centímetro daquele quarto degradado. As gotas escorriam pelas paredes mofadas; as goteiras pingavam sua morbidez fria, melancolicamente, nos cabelos sangrentos, da jovem atormentada. Porém, Lia não parecia querer fugir dessa masmorra horrível. Afinal, ela sabia como havia chegado ali... Naquela imensidão vazia. Sua alma, agora, preenchida por tantas sombras gélidas, e sádicas, fazendo-a ter medo de confrontá-las, com sua recente covardia.

Enquanto Lia escrevia várias cartas, com pesar nos dedos, rabiscando seu longínquo passado, Maria permanecia concentrada na imagem triste que havia à sua frente. Não queria correr o risco de deixá-la escapar, como um gato arisco que foge de seu dono amável. A melhor coisa que podia fazer era mantê-la sob, constante, vigília. Nem mesmo o som metálico que emanava do relógio antiquado, naquele abismo de sofrimento, podia perturbá-la.

Mas Lia sabia que ninguém poderia ajudá-la. Por sua conduta exacerbada, que não remediava atos e consequências, essa existência angustiada era sua recompensa merecida... Verdadeira... Divina. Porém, Maria ainda vislumbrava algum milagre sagrado. E esperava que alguma voz ecoasse daquela boca pequena, e cansada; e que algo dentro da alma de Lia pudesse vir resgatá-la, para que elas, novamente, pudessem caminhar juntas... Como as adoráveis irmãs, unidas, que sempre seriam... Num passado inalcançável... Em memórias perdidas... Em lembranças vazias...



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MARCOS VINÍCIUS Formado em Jornalismo e Pós-graduando em Cinema. Percebi que sou apaixonado pela escrita, mas ainda preciso saber em qual meio da comunicação quero exerecê-la. Fã de HQs, literatura (dramas, romances de época e suspense), filmes e séries (principalmente terror). Tenho problemas sérios com o tempo, pois é o causador das minhas angústias.

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