Fim de tarde, ele caminha distraído pela calçada. Mas é claro que por
maior que fosse sua distração, ele nunca deixaria de reparar naquela mulher.
Ela estava sentada naquele café, como de costume, ela faz isso todas as tarde
de inverno e outono. Impossível não lembrar disso, já que até algum tempo
atrás, ele lhe fazia companhia, não que gostasse de café, mas era incrível
estar com ela.
Aproximou-se, ainda que pensativo, não sabia se devia. Será que ela já
havia o perdoado? Será que ainda pensava nele? Ou será que outro alguém já lhe
tomara o coração?! Resolveu arriscar. Disse “oi” discretamente, ela o olhou e
sorriu... Como o sorriso dela é lindo, pensou consigo. Lembrou também do quanto
era feliz ao lado dela, porque deixou tudo se perder?
Posso sentar contigo? Perguntou ele, completamente acanhado e crente que
ouviria um não, mas para sua surpresa ela lhe disse sim. Pediu outro café, e
perguntou se ele a acompanhava. Aquele cheiro de café lhe lembrava de casa.
Então pensou em dizer a ela tudo que estava sentindo. O quanto à falta dela era
gritante, que a saudade lhe consumia a sanidade e o amor doía à alma!
Olhou-a e balbuciou o nome dela, que o olhava atentamente: Preciso que
me perdoe, não posso, não quero, nem consigo ficar mais longe de ti. Os dias
têm parecido anos e nada é tão bom como era quando estava ao teu lado. A
verdade é que eu te amo, demorei a entender, mas agora eu sei. Ela continuou
fitando-o e ele fazia aquela carinha de abandonado que por muitas vezes a
comovia.
Ela respirou fundo, algumas lágrimas começaram a cair de seus olhos, e
surgiu um sorriso; Eu esperei tanto para ouvir isso, eu esperei no dia seguinte
em que você saiu de casa, daí eu esperei por mais uma semana, quando percebi,
havia passado dois meses e eu ainda esperava você, qualquer coisa, um
telefonema, um sinal. Mas, você não... Então me aparece hoje, tão doce, tão
arrependido, tão apaixonado... Sabe, eu mantive a sua vaga na garagem
reservada, eu nem sei por que, acho que é a força do hábito. Sempre achei que
uma hora ou outra você iria voltar, não pra ficar, mas, para conferir o estrago
que fez, que não é mais estrago. Eu saí catando, uma por uma das nossas fotos
que eu rasguei em momentos de fúria, também tive que catar o meu coração que
estava aos cacos. Opa, me desculpa, prometi pra mim mesma que não iria usar
frases com coração. Agora, você quer voltar pra casa? Tudo bem, aparece lá
qualquer dia desses, não vai estranhar, porque está diferente, o mesmo de um
jeito diferente, igual a mim. Você está me entendendo?! Bom, quando der me
liga, vai ser bom sentar com mais tempo e falar sobre como anda a vida, quem
sabe, você não descubra que de alguma forma eu despertei em você um novo jeito
de entender as coisas, de viver a vida. Sabe, eu acreditei que você vinha, e
veio, não foi? Fui louca, mas quem não é quando ama desmedidamente? Hoje,
quando chegar em casa, a vaga na garagem não será mais sua. Nesse momento, a
gente sela o fim, que ficou mal dito desde aquele dia. Se você quer alguém para
amar, aqui, você não encontra mais, quem sabe no café da outra esquina? O mundo
é tão vasto e tem sempre alguém por aí, não é assim que você dizia?
Não havia o que falar, sua mente dava voltas, como pode ela ter mudado
tanto. Pensava ele, sem respostas a dar. Ela foi embora, e ele ficou sentado
lá... Teve coragem de ligar? Ou de aparecer? Não, ele nunca mais falou com ela,
ainda que por muitas vezes a encontrasse naquele mesmo café, ainda que ela
estivesse sozinha, ainda que ela lhe sorrisse, por educação ou não.
Ele prometera a si mesmo que nunca mais falaria de amor, portanto, nunca
mais prenunciaria o nome dela!
Manueli Dias
1 Comentários
Aplausos Manu!!!!
ResponderExcluirTexto lindo e envolvente! Vc escreve de uma forma cativante! Gosto muito disso! (=
Beijuss!!!
Obrigada pela sua visita!
Ficaremos muito felizes com teu comentário!
Att,
Nós, Poéticos e Literários!
nospoeticos@gmail.com