Café com Amor 3.



Ela sentava toda encolhida, no canto da cadeira, devorando aquele livro. A xícara de café ia esfriando sobre a mesa, e ela não se importava, a leitura e sua empolgação com o livro era notória. Percebia um ou outro que passava e olhavam-na curiosos, ora tentavam saber que livro era aquele, ora queriam entender aquela menina esquecida na cadeira com o livro na mão.

Duas mesas à frente, ele não parava de olhar pra ela. A verdade, é que ele estava indo àquele lugar já havia alguns dias, sentava naquela mesma mesa, só para poder observá-la. Ele a notara desde a primeira vez, ficava olhando-a a distância, mas hesitava lhe falar, não tinha certeza. Ou talvez tivesse, e por isso o medo era maior.
Reconhecia seus traços fortes e o cabelo encaracolado, além da franja que sempre lhe atrapalhava, e o seu ritual, ao sentir, fazer o pedido e abrir o livro, coisas que a faziam especialmente única, bem ali, no cantinho, encolhida na cadeira, como se temesse ocupa-la demais.

- Oi?! Disse ele, um oi tímido, de quem sabia que ela não deveria ter escutado, pois ainda não desviara os olhos do livro.
- Ah, oi... está muito tempo aí? Desculpa, não percebi, estava distraída.

Ele notou que nesse dia havia algo de estranho em suas expressões, como se misturasse dor e alegrias, era confuso, mas ambos sabiam que certo.
Agora ela pensara, se ela nunca o tinha notado mesmo, ou se apenas fingia não o vê.

- Não, não faz tanto tempo assim. Te reconheci de longe, mas demorou um pouco para eu tomar coragem e vim até aqui...
- Sim, demorou quase uma semana, o livro já está perto do fim.

Então ele teve certeza, ela o notara... Será que ele fazia papel de bobo?!

- Como você está? Tudo bem?
Parecia mais um pergunta preocupada que casual, e talvez fosse, mas a verdade é que ela não queria saber nada, absolutamente nada sobre ele.
- Tudo ótimo! E você?
- Tudo... é, bem.
A demora da resposta queria dizer algo, mas a menina preferiu acalmar seu coração e fechar os ouvidos para a felicidade no “tudo ótimo” que ele respondeu.

A casualidade era estranha. Mesmo ambos tendo se notado, e pedido para aquele momento acontecer. Mesmo um esperando o outra dar o primeiro passo, parecia sobrar algo ali.

- Então, me conta algo que eu não sabia sobre você.
Ele sorriu enquanto fazia a pergunta, um sorriso de angustia, torcendo para não ter novidades.
- Odeio pessoas que enrolam para fazer as perguntas que realmente querem.
- Isso eu já sei...
- Então o que deseja ouvir de resposta?
Segurou para não continuar, mas não conseguiu, já que começou, não poderia deixar pela metade. – Não me venha pedindo verdades ou novidades.
- Porque não?
- Porque eu posso começar a exigir o mesmo de você!

Fez-se o silencio, enquanto olhava-se para baixo tentando se distrair com os sapatos, e ela sabia que ele não tinha resposta, retornou ao livro.

- Tenho que ir... estou atrasado.
Ele mentiu, olhando o relógio para tentar ser real, a verdade é que foi uma mentira engraçada, obvia, e desnecessária.

- Está sempre atrasado, ou é mais conveniente assim? Acho que você já esqueceu que te conheço.
- Talvez, mas tenho que ir.

Ele a abraçou e deu um beijo na bochecha, como da última vez. Ela queria sair, mas ficou ali, ainda escutando o coração. Acalmou-se a medida que ele ia se afastando, esperou, deixou a respiração voltar ao normal e continuou olhando ele ir... saberia o momento exato de fazer.

- Ei!
Ela o chamou, a voz quase que falha, a garganta seca e se fechando.
- Sim... ainda querendo a verdade?
Provocou ele, com aquele sorriso que fazia ela suspirar.
- Sim, mas não precisa me contar agora!
- Verdade?
- Sim, um dia você me fala, que tal?
- Toda a verdade? 
- É, ou que você achar melhor.
- Que tal amanhã, aqui, no mesmo horário?
- Tudo bem, ainda tenho alguns capitulo do livro para terminar de ler...

Ela sorriu e ele a sorriu de volta.

- Até! (Ambos preencheram a mesma frase, no silencio, e em segredo)
Novamente, havia algo a mais ali.

Manueli Dias, 2013

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