Eu vi.
Com estes meus olhos tão fadados à observação.
Vi como ele veio e, de longe, te reconheceu.
Vi seu ligeiro olhar na direção dele; o nanossegundo que você levou entre o reconhecer e o desviar de seu olhar.
Vi que ele continuou te olhando enquanto se aproximava, cautelosamente, como que temeroso de sua reação.
Mas você continuou andando, como se não fizesse conta da existência dele. Como se ele fosse um transeunte qualquer. Como se aquele nanossegundo de constrangimento não tivesse acontecido.
E continuamos nosso caminho. Você de cabeça baixa, continuando a nossa conversa. Eu fingindo que não vi toda a cena que tinha acabado de ver. E ele... Ele te olhando como se você fosse um pássaro raro, voando para longe de seu alcance.
Não resisti e olhei para trás quando ele passou por nós. E lá estava aquele olhar, desejoso de uma retribuição, de um relance, um aceno, de qualquer coisa que demonstrasse algo...
Mas você seguiu em frente. Não retribuiu o olhar.
E eu fiquei me perguntando o que aconteceu para transformar esse amor em um nanossegundo de olhares magoados numa calçada.
Soneto de Separação
(Vinicius de Moraes)
De repente, do riso fez-se o pranto
Silencioso e branco como a bruma
E das bocas unidas fez-se a espuma
E das mãos espalmadas fez-se o espanto
De repente da calma fez-se o vento
Que dos olhos desfez a última chama
E da paixão fez-se o pressentimento
E do momento imóvel fez-se o drama
De repente não mais que de repente
Fez-se de triste o que se fez amante
E de sozinho o que se fez contente
Fez-se do amigo próximo, distante
Fez-se da vida uma aventura errante
De repente, não mais que de repente.
6 Comentários
"E lá estava aquele olhar, desejoso de uma retribuição, de um relance, um aceno, de qualquer coisa que demonstrasse algo..."
ResponderExcluirNão deve ter sido fácil pra testemunha ocular desse fato presenciar essa cena. Eu, no lugar dela, provavelmente teria perguntado o porquê de tanta indiferença no outro. Mas, sabe, acho que a situação mais difícil é a do dono do olhar, que permaneceu na espera do que não mais vai ter. #triste
Lindo texto, gêmea! Beijo!
Pois é Malu, uma cena dessa mexe com a gente...
ResponderExcluirAinda mais com gente que enxerga mais do que deveria enxergar...
Acho que a testemunha desse caso ainda tem muitas perguntas não respondidas em sua cabeça.
Quem sabe ela não apareça por aqui novamente quando encontrar algumas respostas?
Bjo Malu!
Gostei tanto do post que compartilhei na página do meu blog. Acho que, no fundo, sonho em ter o meu nanossegundo, dar uma bela ignorada e seguir em frente!
ResponderExcluirTraduziu exatamente o sentimento que está aqui.
Um beijo,
Fê
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Que bom que você gostou, Fernanda! Fiquei feliz.
ResponderExcluirSeja sempre bem vinda ao nosso blog!
Beijos!
Ju!!!!!!! Estava doida pra ler o texto mas ainda não tinha conseguido! Tenho que falar que está fantástico amiga!!!! Lindo é pouco para descrever.
ResponderExcluirE completar com Vinícius é fechar com chave de ouro hein! Arrasou!!!! <3
Beijinhos!
Ah, Van! Obrigada!
ResponderExcluirFico lisonjeada!
Um elogio seu vale demais!
Bjossss
Obrigada pela sua visita!
Ficaremos muito felizes com teu comentário!
Att,
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